Orgaos de comunicacao

Os órgãos de comunicação privados em África. Actores-chave na consolidação das novas democracias

A democracia é um processo contínuo de construção. Por isso, não basta termos eleições regulares, competitivas e transparentes para vivermos realmente em democracia. Cada um de nós tem a obrigação de desempenhar um papel ativo na construção diária de nossas democracias, e os órgãos de comunicação social não são exceção.

Em Moçambique e na África em geral já vivemos várias fases neste processo de democratização, sendo extremamente positivo termos dado grandes avanços no que refere ao respeito das liberdades individuais e colectivas, incluindo a liberdade de expressão.

Contudo, é fundamental continuar este processo dia a dia. E para isso é importante que cada um tenha consciência da sua função: a função dos governos é defender o interesse público através das acções governamentais e a dos Medias é promover a transparência e a responsabilidade dos governos, mantendo uma à cidadania informada.

Órgãos de comunicação, jornalismo e democracia

O jornalismo existe em democracia, mas parece-me mais importante afirmar que o jornalismo cria a democracia. Permite que a democracia seja uma realidade também ela controlada. Embora haja o risco da actividade jornalística poder ser invadida, com interferências na liberdade de expressão, este sector mantem controladas as instituições democráticas, atribuindo à população o conhecimento e as informações que permitem julgar, criticar e formar uma opinião.

Se há que falar em pilares da democracia, não se pode esquecer que o jornalismo e os órgãos de comunicação fazem parte de um deles. Eles desenvolvem-se nas liberdades democráticas, mas a democracia plena existe, também, por meio do jornalismo e dos Média.

Ultrapassados os piores legados do colonialismo e as restrições da Guerra Fria, os velhos dogmas deram lugar a um novo pragmatismo, uma liberdade para inovar, experimentar e encontrar respostas próprias aos desafios locais. Assistimos assim, nos últimos 20 anos no continente africano, a uma correlação entre a melhoria dos índices de boa governação e o desenvolvimento do setor dos Media nos nossos países.

À medida que os ecossistemas dos Media se diversificaram e se abriram cada vez mais, depois de décadas de estrito controlo estatal, o jornalismo inovador e independente promoveu a transparência e a responsabilidade do governo, contribuindo activamente para a melhoria do desempenho da boa governação no continente.

Neste âmbito, os órgãos de comunicação desempenham assim um papel fundamental, contribuindo ao aprofundamento e institucionalização da democracia através de consolidação duma esfera pública sólida e uma sociedade civil informada. Os cidadãos precisam de informação credível e, para isso, necessitam de órgãos de comunicação social que possam moderar, de forma eficaz, o debate público, facilitando as discussões significativas que possam induzir uma transformação positiva no seio da sociedade. O jornalismo exerce-se assim por e a favor dos cidadãos, para que estes possam ter uma opinião acerca dos contextos em que vivem e possam participar activamente na democracia.

A digitalização e suas consequências

Contudo, o advento do digital trouxe mudanças muito significativas ao panorama dos Media tradicional: o ciclo de notícias ganhou um enorme dinamismo e rapidez, graças aos tweets, blogs e jornalismo dos cidadãos. Por outro lado, a fibra óptica revolucionou o sector das telecomunicações e a internet se tornou cada vez mais rápida e barata. O continente africano viu, por exemplo, as taxas de crescimento mais rápidas do mundo em termos de penetração da Internet em 2018, permitindo conectar as comunidades mais isoladas como são os contextos rurais em África.

A participação cada vez mais activa dos cidadãos neste novo cenário dos Media tem levado a uma necessária e dramática reformulação da dinâmica entre cidadãos, Media e governo. Mudanças que exigem dos profissionais do sector dos Media e dos jornalistas, em particular, uma enorme capacidade de adaptação.

Os desafios de Moçambique e da Africa no cenário actual

No Grupo SOICO entendemos, desde o início, a natureza dessas transformações e por isso nossa estratégia tem-se assentado sempre nos quatro pilares fundamentais da inovação, diferenciação, tecnologia e recursos humanos.

No entanto, nosso grupo e todos os órgãos de comunicação em Moçambique e na África enfrentam ainda importantes desafios. Embora grandes esforços tenham sido feitos durante os últimos anos, o índice de analfabetismo da sociedade moçambicana é ainda muito alto, factor que representa uma barreira ao acesso à informação, à penetração dos Media e à inovação tecnológica. Por outro lado, apesar dos grandes avanços tecnológicos já alcançados, a falta de disseminação dos mesmos e a falta de estruturas capazes de suportar correctamente a inovação tecnológica são entraves para a aposta na inovação tecnológica por parte dos Media.

Desta forma, o cenário futuro manifesta-se complexo e desafiador. Felizmente, a sociedade mantêm-se fiel ao papel central dos Media que é o de informar, educar e entreter. Órgãos de informação livres e independentes são e continuarão assim a ser fundamentais para o desenvolvimento económico e democrático dos nossos países e é responsabilidade de todos nós continuar a trabalhar para aprimorar seu funcionamento, defendendo sempre a ética, a transparência, a integridade, a responsabilidade e a excelência.