empreendedorismo jovem

O futuro do empreendedorismo jovem em África

Artigo de opinião publicado no jornal Observador no dia 29/11/2018

Em África, temos o dividendo demográfico necessário para capitalizar as mudanças, mas para isso devemos garantir aos jovens as condições e oportunidades de que necessitam.

De acordo com o mais recente relatório Doing Business do Banco Mundial, que monitoriza o enquadramento do mercado e a facilidade de fazer negócios para as empresas em todo o mundo, as economias da África Subsaariana, nos últimos dois anos, adotaram uma série de reformas que melhoraram significativamente o nosso ambiente de negócios. Em 2017 um recorde de 83 reformas foram implementadas em 36 das 48 economias da região, o maior número já registado pelo Banco Mundial. Como resultado, o número médio de dias para iniciar um negócio em África foi reduzido de 61 em 2003 para 22,5 dias em 2017.

Mesmo que a nossa região continue a ser uma das menos favoráveis ​​para estabelecer novos negócios, devemos orgulhar-nos da contribuição de todos – cidadãos, trabalhadores, empresas e governos – para alcançar estes ganhos históricos. No entanto, temos também que nos convencer de que este é o caminho certo, redobrando os nossos esforços para continuar a melhorar o tecido empresarial de África.

Neste processo, os jovens africanos são os que mais beneficiam, pois têm o maior potencial para aproveitar as oportunidades que se abrem. Nos jovens, reside o nosso dividendo demográfico e a força motriz de um desenvolvimento sustentável e inclusivo para toda a África.

Para crescer e prosperar, este potencial de desenvolvimento sustentável requer investimento e condições favoráveis; condições que só podem existir se os jovens tiverem mais e melhores oportunidades de participar activamente nas nossas economias. E, para isso, acredito que devemos acelerar o aprofundamento de nossas liberdades económicas, especialmente as dos jovens, porque a realidade que enfrentam todos os dias está cheia de desafios.

A probabilidade dos jovens economicamente activos encontrarem-se em situação de desemprego continua a ser consideravelmente maior do que para o resto da população, de acordo com o relatório de Tendências Globais de Emprego para a Juventude 2017 da Organização Internacional do Trabalho. Embora o nosso continente tenha assistido a um crescimento económico durante a última década, isto não resultou numa maior disponibilidade sustentada de oportunidades de emprego e condições decentes para os jovens africanos. No caso do meu país, Moçambique, o desemprego dos jovens atingiu 42% em 2017, de acordo com as estatísticas do Banco Mundial.

Assim, abordar os problemas enfrentados pelos jovens a partir da perspectiva do desemprego é imperativo, sendo imprescindível combatê-lo. Mas esta abordagem não é suficiente. Defendo a criação de mais oportunidades de emprego de melhor qualidade, empregos nos quais as pessoas possam colocar os seus conhecimentos em prática, realizar seus projectos e contribuir para o desenvolvimento económico e social dos nossos países.

Ao mesmo tempo, duvido que as nossas economias contem actualmente com as ferramentas necessárias para investir na criação de empregos com o ritmo necessário: a nossa população cresce a uma taxa tão alta que diminui a capacidade de qualquer país de gerar o volume de empregos necessários para a nossa juventude. As nossas economias devem ser mais dinâmicas no sentido de permitir e facilitar o desenvolvimento de negócios e o empreendedorismo. As oportunidades que os jovens africanos tanto necessitam surgirão com os incentivos e as condições apropriadas para a promoção da iniciativa privada.

Neste contexto, o futuro está em os nossos jovens terem as condições para desenvolver as suas capacidades, o seu espírito empreendedor e colocá-los em prática. É por isso que devemos motivá-los a desenvolver, acreditar e apostar no seu talento. É por isso que devemos criar os mecanismos que garantam o seu acesso a formação e qualificação adequada. A promoção deste espírito empreendedor é de vital importância para o futuro das economias africanas.

O sector privado, em conjunto com os governos e organizações da sociedade civil, podem e devem desempenhar um papel fundamental neste processo: as empresas privadas podem fornecer experiência de gestão e capital inicial para projectos de jovens; eles têm a capacidade de investir em pequenas e médias empresas que podem tornar-se parceiras como fornecedores ou clientes; podem também patrocinar competições de planos de negócios e estabelecer parcerias com universidades. Finalmente, o sector privado tem uma capacidade que poucas outras organizações têm para disseminar boas práticas e conhecimento além-fronteiras.

Neste contexto, o MOZEFO – Fórum Económico e Social de Moçambique não podia estar alheio a esta temática, tendo criado um projecto dedicado aos jovens. O MOZEFO Young Leaders, que realiza a sua segunda edição a 28 e 29 de Novembro em Maputo, é uma iniciativa que visa criar um espaço aberto de debate dedicado aos jovens moçambicanos e promover a partilha de conhecimento e experiências que possam contribuir para a sua formação e desenvolver as suas capacidades de liderança. Por outro lado, o MOZEFO Young Leaders promove o debate em torno das temáticas do desenvolvimento económico que mais preocupam os jovens moçambicanos e estimular a sua participação cívica na sociedade.

O mundo está a mudar rapidamente e os jovens de hoje são a geração mais preparada da nossa história para enfrentar este ritmo de transformação. Em África, temos o dividendo demográfico necessário para capitalizar as mudanças, mas para isso devemos garantir aos jovens as condições e oportunidades de que necessitam. Quanto mais livres forem de perseguir os seus projectos, sonhos e empreendimentos, mais justo, solidário e sustentável ​​será o nosso futuro.