
Conhecimento como Catalisador do Desenvolvimento Sustentável Africano
Os Objectivos de Desenvolvimento Sustentável (ODS) que conformam a Agenda 2030, aprovados pelas Nações Unidas a 25 de Setembro de 2015, inspiram-se no nobre propósito de acabar com a pobreza, proteger o planeta e assegurar uma prosperidade sustentável e universal.
O continente africano não é alheio a estes objectivos. Contudo, os mais recentes indicadores económicos apontam para uma desaceleração, preocupante, do crescimento. Em Abril deste ano, o director do departamento africano do Fundo Monetário Internacional (FMI), Abebe Selassie, considerou que a média de crescimento da África subsariana vai manter-se abaixo dos 4% a médio prazo, comprometendo os Objectivos do Desenvolvimento Sustentável.
Neste contexto, o FMI, no seu relatório World Economic Outlook apresentou uma estimativa de crescimento da economia Moçambicana de 3% este ano e 2,5% no próximo ano o que representa uma revisão em baixa face aos 5,3% que o FMI esperava, em Outubro do ano passado. Também para 2023, ano em que se espera que os megaprojectos na área do gás natural comecem a gerar receitas avultadas, o FMI reviu em baixa o crescimento previsto, de 14% para 9,9%.
A Sociedade e a Economia do Conhecimento
Perante este cenário afigura-se essencial apostar em políticas de longo prazo e na transformação económica e social do nosso país através da construção de uma sociedade do conhecimento. Como já afirmei anteriormente, o desenvolvimento sustentável é um processo humano, é nas pessoas e na sua capacidade transformacional, que deve estar o foco das organizações e dos estados para promovê-lo e o conhecimento é um dos instrumentos mais decisivo como factor acelerador de mudanças.
A maioria dos economistas do desenvolvimento são unanimes em afirmar que a economia do conhecimento será o fundamento do progresso económico e social no decorrer do próximo século. Contudo, a construção de uma economia e sociedade deste tipo exige uma mudança de políticas estruturais e um forte investimento no desenvolvimento de capacidades humanas. Para esse efeito, os decisores políticos devem concentrar os seus esforços no desenvolvimento dos quatro pilares de uma economia do conhecimento, conforme definido pelo índice de economia do conhecimento do Banco Mundial.
Os Quatro Pilares de uma Economia do Conhecimento
O primeiro pilar é a educação. Os decisores políticos precisam de implementar medidas ambiciosas, não só para aumentar o acesso ao ensino e programas de formação, mas também, para melhorar a qualidade e a disponibilidade de tais programas, particularmente nos campos técnicos, ao longo da vida profissional dos cidadãos. A criação de oportunidades de aprendizagem ao longo da vida é a única forma de permitir que a força de trabalho se adapte às condições tecnológicas, em constante evolução.
Um factor crítico de sucesso para a melhoria dos sistemas de educação será uma forte aposta na academia com o objectivo de formar professores de excelência que promovam a partilha de conhecimento para as gerações mais jovens, bem como, o desenvolvimento das actividades de investigação científica.
Por outro lado, uma academia de excelência é fundamental para o segundo pilar de uma economia do conhecimento que é a inovação. Por enquanto, as economias em desenvolvimento podem tirar proveito do catch-up tecnológico. Contundo, a capacidade de importação de modelos externos é limitada e as nações terão que passar da imitação para a inovação genuína.
No contexto da maioria dos países em processo de desenvolvimento é fundamental apostar em planos tecnológicos e importação de tecnologia que contribua para a formação da força de trabalho local. Por outro lado, estes países têm a oportunidade de conseguir grandes avanços tecnológicos e saltar etapas.
Para tal, é fundamental um investimento no desenvolvimento das tecnologias de comunicação e informação, terceiro pilar de uma economia do conhecimento, definindo como prioridade o investimento nas infra-estruturas que permitam a implantação de serviços de TIC. A inovação e a adaptação ao contexto local serão factores críticos para este efeito, assim como, as políticas reguladoras que promovam a concorrência do sector.
O último pilar de uma economia do conhecimento compreende os incentivos e as instituições. À medida que os países avançam no processo de transformação económica as empresas precisarão de apoio para se tornarem competitivas. Por outro lado, é fundamental criar as condições necessárias para alcançar um bom ambiente de negócios de forma a promover o desenvolvimento do sector privado. Neste sentido, afigura-se essencial construir instituições fortes capazes de promover esta transformação, bem como, de assegurar a confiança e capacidade de gestão nos momentos de crise.
Construir uma sociedade e economia do conhecimento é um processo complexo e de longo prazo, que exige o envolvimento do sector público, sector privado e sociedade civil. Contudo, os dados estão lançados e dependerá de cado um de nós assumir um papel participativo neste processo.